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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PRETO NO BRANCO OU COLORIDO?


Nesses últimos anos tivemos a chance de assistir um novo grupo reivindicando uma nova postura da sociedade diante de algo muito antigo. É a questão do homossexualismo que tanto nos choca, chama a atenção e ao mesmo tempo nos preocupa; uns por achar inaceitável o movimento gay, são os homofóbicos, outros, por acharem as atitudes destes últimos um tanto quanto exageradas. Resolvi escrever um pouco sobre o assunto depois do dilema que o tema causou nas eleições para presidente, foi realmente uma saia justa e um deus-nos-acuda para os candidatos, que procuraram não atacar nenhuma das diretrizes. Mas afinal, qual é o lugar do homossexual em nossa sociedade? Até onde é lhe dada voz? Tem de serem extirpados de nosso convívio?

O PRECONCEITO - existe para segregar, ou seja, separar e tachar grupos destacando alguma característica comum a seus integrantes. Fere direitos, a liberdade e a integridade física ou mental de quem é atingido por esse mal. Faz uso de ideologias e meias verdades para convencer e tornar aceito seu discurso desumano, pois não é raro encontrá-los difundidos na política, mídia, ciências e escolas acadêmicas como o determinismo alemão de Hatzel. São criados vários mecanismos para desvalorar a imagem de quem sofre a ação preconceituosa. E com a discussão do homossexualismo não é diferente, coloco um exemplo do preconceito vindo da ciência, visto como patologia, já que no Alpendre temos tantos cientistas presentes. É um trecho de um antigo livro de medicina intitulado El Manual Merck (infelizmente só encontrei em espanhol, então irá assim mesmo!), é a sexta edição, ano 1978. Temos na parte referente em psiquiatria:

HOMOSEXUALIDADE – Tratamiento – En la mayoría de los casos es preciso sentar objetivos limitados em el tratamento. Em la mayoría de los casos, todo lo que se necesita es ayuda para superar las crisis o mitigar el sufrimiento emocional y uma psicoterapia simple que ayude al individuo a conseguir una adaptación realista satisfactoria [?? Hauahuah ??] dentro de su contexto social. De todos os modos, algunos homosexuales se senten fuertemente motivados a buscar ayuda para modificar la estructura de su adaptación [será porque todos ao seu redor lhe veem como estranho?]. Los mejores resultados se obtienen en quienes han experimentado algún estímulo heterossexual, pero han desarrollado una evitación, cargada de ansiedade, del contacto heterosexual. [...] El tratamiento de los individuos exclusivamente homosexuales que nunca ham sentido niguna atracción heterosexual, y tienen poca motivación para cambiar [trocar], es inútil, y el tratamiento de eversión de cualquier desviación que represente el único vehículo de expresión grave, posiblemente con tendencias suicidas.


Mostrando o outro lado, trago agora o que se produz atualmente em torno do assunto; é um pequeno trecho de uma tese de mestrado em psicologia, a autora é Annelyse dos Santos Lira Soares Pereira que na época (2004) era mestranda pela Universidade Católica de Goiás, temos:

Atualmente, alguns estudos começam a abordar a forma como as pessoas representam a homossexualidade após a constatação de que se trata de uma orientação sexual sem causas específicas (Camino & Pereira, 2000). Esta nova perspectiva encontra amparo legal na Resolução Nº 001/99 promulgada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 1999) que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação às orientações sexuais. Por considerar que a homossexualidade não é doença, nem distúrbio e nem perversão, o CFP determinou que os psicólogos não devem contribuir com eventos e serviços que promovam o tratamento e a cura deste tipo de orientação sexual. Contudo, essa visão não é unânime.


Radkowsky e Siegel (1997) consideram que estigmatização social podem fazer com que adolescentes homossexuais percam sua habilidade para ter sentimentos de auto-estima positiva e de se relacionarem de forma saudável com familiares e com colegas. Segundo os autores, esses fatores deixariam os adolescentes susceptíveis a sentimentos de solidão, de isolamento, de depressão e com tendência ao suicídio.

Mesmo assim, a causa desses sentimentos não seria a homossexualidade por si, mas as pressões sociais homofóbicas. Em função disso, os autores concordaram com a utilização de estratégias de intervenções clínicas com adolescentes homossexuais com o objetivo de “normalizar” sua adolescência. Contudo, a posição dos profissionais da psicologia sobre assuntos concernentes a temas polêmicos que envolvem os Direitos Humanos pode estar mediada pela concepção do que seja a psicologia ou pelas teorias psicológicas adotadas por estes profissionais (Camino, 1998).

Para analisar a relação entre teorias científicas e a discriminação contra homossexuais, Camino e Pereira (2000) realizaram uma investigação sobre a forma como professores de psicologia explicam a homossexualidade e a relação entre essas explicações e o posicionamento desses professores frente à Resolução 001/99 do CFP (1999). Esses autores verificaram que os diversos níveis de adesão às explicações da homossexualidade foram os melhores preditores da atitude dos professores em relação à Resolução. Os professores que dão explicações psicológicas para a homossexualidade e que atuam na área clínica não concordam que a Resolução representa um avanço na psicologia. A adesão ao modelo fisiológico influenciou negativamente a atitude positiva global com a Resolução, levou a concordância de que a homossexualidade é uma doença e a aceitação de que se deve propor cura para os homossexuais. A adesão às explicações psicossociais levou à concordância de que a Resolução representa um avanço na psicologia, fundamentalmente com relação ao fato de que a homossexualidade não é uma doença e, conseqüentemente, não se deve propor cura ou tratamento para homossexuais. Com base nestes resultados, Camino e Pereira (2000) concluíram que teorias e práticas científicas pode contribuir com o processo de discriminação social contra os homossexuais.

Parece que situar e conceituar a homossexualidade em nosso tempo ainda é uma tarefa muito difícil, até para profissionais que lidam diretamente com isso, dessa forma é reforçada a teoria de que o preconceito profundamente enraizado se tem muita dificuldade de detectá-lo, quanto mais eliminá-lo. Pelo menos temos o alívio de o tema esta sendo posto em pauta, coisa que há anos atrás seria impossível tal discussão a níveis tão amplos. Isso acontece graças ao próprio movimento homossexual, junto com o movimento das mulheres, que reivindicam espaço, aceitação e voz diante dessa sociedade fundamentalmente patriarcal, desumana e injusta que explora e castiga continuamente a imagem e corpo da mulher e elimina a do gay, tentando se passar por democrática. Estamos muito distante de uma perfeição, ainda vivemos extremos como a proibição de gays a doarem sangue, enquanto maridos viris levam doenças venéreas para dentro de casa; e casos de professores homossexuais serem postos para fora de escolas por ser um possível “perigo” ao bem estar dos alunos, enquanto outros professores másculos conhecidos como “papa-alunas” poderem circular livremente pelos corredores, podendo exercer perfeitamente seu papel de macho.

Devemos aceita-los primeiramente por serem humanos e depois por serem um grupo de extrema representatividade, seu papel e lugar já não podem ser mais negados. O que devemos a essa altura é tentar tomar consciência de que nossos costumes, cultura e valores mudam ao logo dos séculos e atualmente o mundo não suporta mais viver o preto no branco (infelizmente para alguns e para outros não!), algo novo se aproxima e parece querer torna-lo multicolor. Acredito que a mudança deve ser aceita já que ela é de inclusão social, e dessa forma não cairemos em fundamentalismos, nem caminharemos para estagnação das relações de convívio.



Rômulo Filgueira

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