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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O POÇO ESCRITO


O Poço Escrito

Nas minhas ultimas férias que, como sempre, vou para minha cidade natal Tabira-PE, resolvi conhecer um dos pontos turísticos de lá, O Poço Escrito. Admito que como um estudante de História já deveria ter ido lá a muito tempo, mas vamos deixar esse detalhe (só para não dizer que foi preguiça minha em não ir até lá kkkk). O lugar é próximo da cidade, dar para ir caminhando tranqüilo do Centro da Cidade e como péssimo trilheiro, meu irmão (Rômulo) fez a gente se perder umas cinco vezes no caminho, o importante é que encontramos aquele lugar maravilhoso!










Realmente para os índios aquele lugar deveria ficar marcado, pois apresenta ótimas características de habitação com lugares protegidos das intempéries da natureza e, além do mais, com água potável sempre próxima. Realmente as inscrições não são muitas, porém é um valioso registro dos nossos parentes pré-colombianos. Antes de como se encontra as ambiente vou lhes contar um pouco que sei sobre esses povos e como se foram no rastro da história, cabendo a nós varrer a poeira do tempo atrás do que está vivo.

obs: talvez nao estajam vendo direito, mas é por causa da camera, que é não é lá essas coisas kkkkkkk

Os índios que habitavam aquela região é a dos TABAJARAS donde, no período conhecido na historiografia como Guerras Bárbaras, pois para o homem branco os índios do interior eram mais violentos que os do litoral. Uma explicação para isso talvez seja pelo fato que os índios do interior tenham sido expulsos pelos do litoral e obrigados a habitarem áreas inóspitas. Voltemos ao caso das Guerras Bárbaras. Ao contrário do litoral, as tribos do interior não costumavam ser unidas, apesar de que há registro da criação de várias ligas tribais para combater o avanço do homem branco nas terras sertanejas. Por outro lado, também há registro de tribos que ajudam os brancos a derrotar tribos rivais sem saber que acabariam com o mesmo destino de seus inimigos.

Assim o poeta Dedé Monteiro nos fala sobre o índio Tabira:

Tabira, um índio dos mais
Valorosos e fiéis,
Defendia os Tabajaras
Contra os Rivais Caetéis.
Com bravura absoluta,
Mesmo Flechado na luta,
Soube escrever sua história:
Ferido, cego e sangrando,
O herói prosseguiu lutando
Até chegar à vitória!

Devo falar também desse homem branco que aparece no cenário sertanejo, mas quem eram esses homens? Eram os mandados pelos donos de engenhos do litoral para a exploração das terras interioranas a fim de encontrar ambientes favoráveis para a criação de gado, pois não podia haver criação de gado no litoral porque esse era usado para o cultivo de cana-de-açúcar. Comprovando esse fato, de que os vaqueiros – homens que lhe davam com as vacas atrás de pastos e responsáveis pela administração das terras dos senhores de engenho – criavam-se currais, por isso ainda hoje vemos muitos lugares e cidades com o nome de “currais”. Outro fato a se observar é que essa expansão teve seu início em meio ao período da União Ibérica (1580 – 1640), onde os reinos de Portugal e Espanha tiveram sob o comando do mesmo rei, o rei espanhol Felipe II. Esse fato talvez justifique tanta influência (cultura e étnica) nas regiões do sertão, já que nesse período foram enviados inúmeros espanhóis para as terras do Brasil.

Depois desses dois parágrafos, devo me voltar para a situação atual do Poço Escrito. Uma palavra resume a situação do local: abandono. Esse abandono vem tanto pelo lado político da cidade que não tem a menor intenção de preservar o bem comum, podendo, se fosse feita a preservação, usar como ponto turístico e passar a ser fonte de renda para muitos habitantes locais. Mas esse abandono, infelizmente, também vem do lado acadêmico, pois ou os centros de estudos do assunto não se interessam pelo assunto ou não há incentivo para o estudo das inscrições. Somente tenho a lamentar pelo descaso das terras outra hora tão valiosa para nossos antepassados.

Deixo aqui para finalizar outras estrofes do poeta tabirense Dedé Monteiro, sendo que dessa vez descrevendo a maravilha que é o Poço Escrito.

Tabira do Poço Escrito,
Ponto histórico-cultural.
Um lugar maravilhoso,
Encantado, especial,
Onde o Rio Espírito Santo
Lança o frescor do seu manto
Na Magia do Local

Lá, há inscrições gravadas
Pelas gerações passadas,
Que nem o tempo desfaz.
Não há tradução ainda,
Mas mostra a grandeza infinita
Dos meus, dos seus ancestrais.

Quem sabe, um índio poeta,
Apaixonado e aflito,
Não deixou pra namorada
Esse “bilhete” esquisito,
Gravado em baixo relevo,
Desvirginando o granito,
Para, na Idade Moderna,
Servir de Lembrança eterna
Nas Pedras do Poço Escrito




Cícero Filgueira

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PRETO NO BRANCO OU COLORIDO?


Nesses últimos anos tivemos a chance de assistir um novo grupo reivindicando uma nova postura da sociedade diante de algo muito antigo. É a questão do homossexualismo que tanto nos choca, chama a atenção e ao mesmo tempo nos preocupa; uns por achar inaceitável o movimento gay, são os homofóbicos, outros, por acharem as atitudes destes últimos um tanto quanto exageradas. Resolvi escrever um pouco sobre o assunto depois do dilema que o tema causou nas eleições para presidente, foi realmente uma saia justa e um deus-nos-acuda para os candidatos, que procuraram não atacar nenhuma das diretrizes. Mas afinal, qual é o lugar do homossexual em nossa sociedade? Até onde é lhe dada voz? Tem de serem extirpados de nosso convívio?

O PRECONCEITO - existe para segregar, ou seja, separar e tachar grupos destacando alguma característica comum a seus integrantes. Fere direitos, a liberdade e a integridade física ou mental de quem é atingido por esse mal. Faz uso de ideologias e meias verdades para convencer e tornar aceito seu discurso desumano, pois não é raro encontrá-los difundidos na política, mídia, ciências e escolas acadêmicas como o determinismo alemão de Hatzel. São criados vários mecanismos para desvalorar a imagem de quem sofre a ação preconceituosa. E com a discussão do homossexualismo não é diferente, coloco um exemplo do preconceito vindo da ciência, visto como patologia, já que no Alpendre temos tantos cientistas presentes. É um trecho de um antigo livro de medicina intitulado El Manual Merck (infelizmente só encontrei em espanhol, então irá assim mesmo!), é a sexta edição, ano 1978. Temos na parte referente em psiquiatria:

HOMOSEXUALIDADE – Tratamiento – En la mayoría de los casos es preciso sentar objetivos limitados em el tratamento. Em la mayoría de los casos, todo lo que se necesita es ayuda para superar las crisis o mitigar el sufrimiento emocional y uma psicoterapia simple que ayude al individuo a conseguir una adaptación realista satisfactoria [?? Hauahuah ??] dentro de su contexto social. De todos os modos, algunos homosexuales se senten fuertemente motivados a buscar ayuda para modificar la estructura de su adaptación [será porque todos ao seu redor lhe veem como estranho?]. Los mejores resultados se obtienen en quienes han experimentado algún estímulo heterossexual, pero han desarrollado una evitación, cargada de ansiedade, del contacto heterosexual. [...] El tratamiento de los individuos exclusivamente homosexuales que nunca ham sentido niguna atracción heterosexual, y tienen poca motivación para cambiar [trocar], es inútil, y el tratamiento de eversión de cualquier desviación que represente el único vehículo de expresión grave, posiblemente con tendencias suicidas.


Mostrando o outro lado, trago agora o que se produz atualmente em torno do assunto; é um pequeno trecho de uma tese de mestrado em psicologia, a autora é Annelyse dos Santos Lira Soares Pereira que na época (2004) era mestranda pela Universidade Católica de Goiás, temos:

Atualmente, alguns estudos começam a abordar a forma como as pessoas representam a homossexualidade após a constatação de que se trata de uma orientação sexual sem causas específicas (Camino & Pereira, 2000). Esta nova perspectiva encontra amparo legal na Resolução Nº 001/99 promulgada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 1999) que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação às orientações sexuais. Por considerar que a homossexualidade não é doença, nem distúrbio e nem perversão, o CFP determinou que os psicólogos não devem contribuir com eventos e serviços que promovam o tratamento e a cura deste tipo de orientação sexual. Contudo, essa visão não é unânime.


Radkowsky e Siegel (1997) consideram que estigmatização social podem fazer com que adolescentes homossexuais percam sua habilidade para ter sentimentos de auto-estima positiva e de se relacionarem de forma saudável com familiares e com colegas. Segundo os autores, esses fatores deixariam os adolescentes susceptíveis a sentimentos de solidão, de isolamento, de depressão e com tendência ao suicídio.

Mesmo assim, a causa desses sentimentos não seria a homossexualidade por si, mas as pressões sociais homofóbicas. Em função disso, os autores concordaram com a utilização de estratégias de intervenções clínicas com adolescentes homossexuais com o objetivo de “normalizar” sua adolescência. Contudo, a posição dos profissionais da psicologia sobre assuntos concernentes a temas polêmicos que envolvem os Direitos Humanos pode estar mediada pela concepção do que seja a psicologia ou pelas teorias psicológicas adotadas por estes profissionais (Camino, 1998).

Para analisar a relação entre teorias científicas e a discriminação contra homossexuais, Camino e Pereira (2000) realizaram uma investigação sobre a forma como professores de psicologia explicam a homossexualidade e a relação entre essas explicações e o posicionamento desses professores frente à Resolução 001/99 do CFP (1999). Esses autores verificaram que os diversos níveis de adesão às explicações da homossexualidade foram os melhores preditores da atitude dos professores em relação à Resolução. Os professores que dão explicações psicológicas para a homossexualidade e que atuam na área clínica não concordam que a Resolução representa um avanço na psicologia. A adesão ao modelo fisiológico influenciou negativamente a atitude positiva global com a Resolução, levou a concordância de que a homossexualidade é uma doença e a aceitação de que se deve propor cura para os homossexuais. A adesão às explicações psicossociais levou à concordância de que a Resolução representa um avanço na psicologia, fundamentalmente com relação ao fato de que a homossexualidade não é uma doença e, conseqüentemente, não se deve propor cura ou tratamento para homossexuais. Com base nestes resultados, Camino e Pereira (2000) concluíram que teorias e práticas científicas pode contribuir com o processo de discriminação social contra os homossexuais.

Parece que situar e conceituar a homossexualidade em nosso tempo ainda é uma tarefa muito difícil, até para profissionais que lidam diretamente com isso, dessa forma é reforçada a teoria de que o preconceito profundamente enraizado se tem muita dificuldade de detectá-lo, quanto mais eliminá-lo. Pelo menos temos o alívio de o tema esta sendo posto em pauta, coisa que há anos atrás seria impossível tal discussão a níveis tão amplos. Isso acontece graças ao próprio movimento homossexual, junto com o movimento das mulheres, que reivindicam espaço, aceitação e voz diante dessa sociedade fundamentalmente patriarcal, desumana e injusta que explora e castiga continuamente a imagem e corpo da mulher e elimina a do gay, tentando se passar por democrática. Estamos muito distante de uma perfeição, ainda vivemos extremos como a proibição de gays a doarem sangue, enquanto maridos viris levam doenças venéreas para dentro de casa; e casos de professores homossexuais serem postos para fora de escolas por ser um possível “perigo” ao bem estar dos alunos, enquanto outros professores másculos conhecidos como “papa-alunas” poderem circular livremente pelos corredores, podendo exercer perfeitamente seu papel de macho.

Devemos aceita-los primeiramente por serem humanos e depois por serem um grupo de extrema representatividade, seu papel e lugar já não podem ser mais negados. O que devemos a essa altura é tentar tomar consciência de que nossos costumes, cultura e valores mudam ao logo dos séculos e atualmente o mundo não suporta mais viver o preto no branco (infelizmente para alguns e para outros não!), algo novo se aproxima e parece querer torna-lo multicolor. Acredito que a mudança deve ser aceita já que ela é de inclusão social, e dessa forma não cairemos em fundamentalismos, nem caminharemos para estagnação das relações de convívio.



Rômulo Filgueira