

O que vemos hoje é um Guevara amigo, estampado nas camisas, muitas músicas não o deixam morrer e frases dele como “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética” correm bocas e ouvidos. Bem, parece que esse sujeito se aplica melhor ao nosso tempo (mais aceito) do que no dele (existia toda uma política contra práticas socialistas ou comunistas), seus opositores de antes, hoje o cultuam; mas por quê? Qual motivo o leva a ser tão querido, e amado, apesar de muitos não conhecerem bem sua trajetória? O segredo parece esta no fato de que sua imagem foi “comprada”, o mercado se apoderou desta imagem falaciosa para vender, ou seja, se produz renda a partir de quem combateu ferozmente a ética do capital e moral burguesa; Che Guevara se tornou um produto de intenso consumo, onde jovens compram sua imagem para consumir uma ideologia revolucionária falsificada.
Isso é possível porque uns dos principais problemas de nosso tempo (“inimigo”) não residem na esfera do físico, trata-se de uma idéia, uma ideologia muito bem fabricada e que reproduzimos tão satisfatoriamente, que beira a normalidade, nem se quer pensamos se nossas ações correspondem a algo que construímos, não checamos de onde vem nosso desejo. E esse sim, o DESEJO, é uma arma de grosso calibre do ideário burguês de acumulação inescrupulosa: Lalau era um homem bastante rico, roubou dinheiro, era movido pelo desejo de poder, e não pelo acúmulo de capital em si; e para aqueles que acreditam ser a pobreza um pré-requisito básico ao mundo do crime, sinto passar a informação de que sequestradores não realizam seus delitos andando de ônibus, possuem carros potentes; gostaria de lembrar também de que nas favelas não se tem muito espaço para um plantio de maconha e de coca, essas não brotam por lá, as favelas parecem ser apenas um estágio da distribuição, então quem será que planta? Quem tem terra para isso? E como chegam às favelas? O desejo de posse e poder percorre todas as classes, e somos movidos por isso a cada instante. Somos todos burgueses senhores e senhoras, não têm residência fixa e não podemos apontá-los sem nos culparmos, pois eles, os burgueses, somos nós.
Então diferentemente da época do nosso amigo Che nos deparamos com outra forma de domínio e realidade, desta vez sem partido, cor, nome ou lado. E esse “revolucionarismo guevariano” não é mais possível, para a tristeza daqueles que colecionaram todas as tampinhas e figurinhas.
Rômulo Filgueira.
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